Corte de asas e “pisões” são as principais causas de emergência
As penas podem ficar expostas, gerando fraturas de canhões e hemorragias preocupantes, além dos perigos de outros acidentes e alimentação que comprometem a saúde da ave
As aves pet frequentemente têm as penas das asas cortadas com o objetivo de limitar o voo do animal em ambiente doméstico. No entanto, a decisão de cortar as penas é um tema muito delicado e polêmico, que impacta diretamente na saúde da ave. “O problema é quando o tutor decide cortar as penas das asas das aves e corta de forma errada, então esse é o primeiro fator que vai desencadear uma fratura de canhão de penas. A maioria dos animais que eu atendo estão com corte errado de asas”, alerta a médica veterinária Melanie Leite, que tem experiência em atendimento emergencial e cirúrgico de animais silvestres e exóticos.
A médica veterinária Melanie Leite é contra o corte de penas. Mas, caso o tutor opte por fazê-lo, essa decisão precisa ser consciente e responsável. “O corte de asas tem que ser realizado por um profissional especializado porque não é um corte padrão, é um corte específico para aquela rotina daquele paciente, por isso que tem que ser feito por um veterinário”, alerta a especialista.
O descuido com as asas da ave gera consequências graves. Após o corte inadequado, a ave fica mais vulnerável aos acidentes e há uma parte da pena exposta, além disso, o chamado “canhão” é repleto de sangue. A ave pode bater as asas em algum objeto ou até mesmo dentro da gaiola, registrando as já mencionadas fraturas nos canhões de penas. “A calopsita é a campeã de atendimentos e o principal caso emergencial são as fraturas de canhões de pena. Os canhões de pena das extremidades das asas ficam totalmente vulneráveis e são esses canhões de pena que normalmente fraturam, são os das pontas das asas”, explica Melanie.
A maior preocupação é com a hemorragia no local da fratura, que se traduz em caso de emergência veterinária. Segundo Melanie, uma calopsita tem peso vivo, em média, entre 80 e 100 gramas e a fratura de canhão de pena pode até mesmo provocar a morte da calopsita, se o sangramento não for contido. “Entre 0,8 e 1 mililitro de sangue é o máximo que ela conseguiria perder sem nenhum dano. E na maioria das vezes a gente tem aí também uma associação de erros de manejo como alimentação somente à base de mistura de sementes, o que dificulta mais ainda a coagulação”, alerta a especialista.
Outros tipos de acidentes domésticos podem acabar levando a ave para a emergência veterinária. “Depois da fratura do canhão de penas, os mais comuns são os pisões. As pessoas pisam na calopsita e aí a gente tem associado aos pisões as fraturas, traumatismos cranianos, fratura de coluna, fratura das asas, politraumatismos, abertura de pele com exposição de calota craniana”, exemplificou Melanie em entrevista ao podcast Psitacast.
Prevenção de acidentes
Entre as dicas para prevenir acidentes, a médica veterinária recomenda tomar muito cuidado com a presença de ventiladores e correntes de vento que podem fechar portas. Além disso, é necessário avisar todas as pessoas que a ave está presente e pode caminhar pelo chão da casa, alertando principalmente os idosos e as crianças, para evitar os “pisões”.
Após a ocorrência de um acidente, o tutor pode utilizar pó hemostático para conter algum sangramento. Mas o mais indicado é pressionar o local machucado e buscar atendimento veterinário de imediato. “Com qualquer tipo de lesão na ave, tem que levar para o veterinário porque a ave sente dor, aquela região vai inflamar e a ave tem que ser medicada. No geral, com focos de dor no organismo, a ave quer que aquela dor passe, então acaba bicando e piorando ainda mais a situação”, alerta Melanie.
Nutrição de aves
Outro assunto de extrema importância para as aves é a alimentação. A dieta a base de mix de sementes é inadequada porque não oferece os nutrientes necessários para a saúde do animal. Aves pet alimentadas com sementes podem apresentar desnutrição. A falta de nutrientes prejudica a qualidade da pena e favorece as fraturas de canhões, o animal fica mais suscetível ao surgimento de doenças virais, há mais chances de apresentar retenção de ovo, entre outros problemas.
“As sementes são só gordura. Tem um pouquinho de selênio, um pouquinho de vitamina E, mas a maioria delas é só gordura. Então a gente vai ter um aumento de colesterol, a gente vai ter a presença inclusive de diabetes em aves, isso está cada vez mais frequente, principalmente em papagaios”, afirmou Melanie ao Psitacast.
Entre os principais prejuízos da dieta inadequada, a ave pode registrar complicações hepáticas. “O fígado entra num quadro de hepatite e acaba pressionando os outros órgãos. A ave não tem tórax e abdômen, ela tem uma cavidade só que se chama cavidade celomática. Por conta desse aumento do fígado na cavidade celomática, há um esforço respiratório maior por pressão nos pulmões. A gente acaba tendo uma bola de neve, uma cascata de situações que vão só piorando”, explica a médica veterinária.
A recomendação é que o tutor ofereça ração extrusada que seja devidamente indicada para a espécie da ave. A alimentação pode ser complementada com legumes, verduras e frutas, deixando o mix de sementes para ser oferecido apenas como petisco eventualmente, uma vez por semana ou até a cada 15 dias, a depender do estilo de vida e rotina de exercícios da ave.