A CATOLITE DE VLADIMIR PUTIN

A tensão no mundo aumentou consideravelmente depois da notícia de invasão perpetrada por Vladimir Putin à Ucrânia. Enquanto os ucranianos são alvos da atividade bélica atroz e retrógrada, nós somos bombardeados com notícias terríveis que geram pavor e empatia por aquele povo, ora usurpado da integralidade de seu território, tolhido do direito de autodeterminação e soberania. Ao voltar os olhos para o passado, não é difícil perceber certas semelhanças entre a sanha de poder de Napoleão Bonaparte, Adolf Hitler e Putin — compará-los, ao meu ver, não seria qualquer exagero, principalmente porque todos padeceram de catolite (conjugo o verbo padecer no passado como símbolo de esperança).

O filósofo romeno Constantin Noica (1909-1987) descreveu o que seriam “As seis doenças do espírito contemporâneo”, das quais a catolite faz parte (do grego kathoulou, que significa universal). Grosso modo, é preciso dizer que, na visão do nosso filósofo, o ser humano é composto por três sentidos: o individual, o geral e o sentido de determinações. Todo ser humano é uno, carente de individualidade, privacidade; por outro lado, também somos um coletivo, pertencentes a uma sociedade, sujeitos a valores gerais e absolutos, leis rígidas da natureza ou da comunidade. Respectivamente, acabo de exemplificar o individual e geral, enquanto que as determinações seriam os meios, os instrumentos ou atividades para que o ser humano possa exercer esses sentidos. Pois bem, em Putin, a catolite é um deslocamento do geral ao individual, de tal sorte que o doente sequer tenha noção de que haja uma coletividade da qual ele é parte integrante, — tudo e todos existem para servir aos seus propósitos. O catolítico age acumulando vitórias (que são as suas determinações), inimizades, conflitos para inflar o ego e aumentar a sua percepção de indivíduo no mundo. Para que não restem dúvidas, imagine uma criança em sua tenra idade. O infante não tem noção de sociedade, leis, valores rígidos, etc. O que existe para aquele ser autorreferente é apenas a existência e a saciedade imediata de suas necessidades, logo, toda criança padece de catolite como qualquer tirano. Com o passar dos anos, a maturidade tende a curá-la de modo que o indivíduo perceba o mundo, o outro, valores, normas de conduta e costumes, a tal ponto que as satisfações de seus desejos tornem-se voluntariamente adiáveis em prol de um sentido geral. O que ainda não ocorreu com Putin.

A humanidade, desde 1945 (fim da Segunda Grande Guerra Mundial) já havia alçado certo nível de maturidade (não plena): a criação da ONU foi um grande marco; as convenções internacionais estabeleceram regras para conflitos, acabando com o vale-tudo medieval; enfim, as guerras tornaram-se pontuais, abandonando as esferas continental e global. Eis que Putin ameaça jogar a maturidade da civilização no lixo: estabelece um protetorado na Bielorrússia, com um sistema análogo à vassalagem típica da baixa Idade Média; deseja expandir suas fronteiras e seu domínio de senhor feudal a outros “ducados” e ameaça iniciar uma guerra de proporções mundiais. O infantojuvenil Vladimir Putin, no paroxismo de sua catolite, quer forçar uma regressão na humanidade, a fim de trazer à tona males que já estavam superados pelo amadurecimento universal.

É bem possível que Putin tenha Napoleão como um exemplo a ser seguido: o comandante corso deixou de joelhos a Europa no início do século XIX; tentou isolar a Inglaterra por meio do bloqueio continental no âmbito mercantil; entretanto, sofreu pesadas perdas contra a Rússia em 1812, Waterloo em 1815 e morreu preso na Ilha de Santa Helena. Belo ídolo! A História ensina, e quem a ignora paga o preço de acabar ilhado, como o antigo chefe militar das tropas francesas. Talvez Putin devesse rever o passado e submeter-se a ele antes de tentar reescrever a História com novos crimes de guerra e contra a humanidade.

E o Brasil com isso?

Nós temos no Poder um possível admirador do admirador de Napoleão, se não catolítico, invejoso da catolite alheia, que até o momento tem se mostrado um grandessíssimo “anão diplomático”. Portanto, diante desse triste panorama, resta-nos apenas clamar como os bons e universais católicos: — Agnus Dei, qui tollis pecata mundi, DONA NOBIS PACEM (Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, dai-nos a paz).

Henrique Vieira do Carmo

Itumbiara, 01 de março de 2022.

3 thoughts on “A CATOLITE DE VLADIMIR PUTIN

  • É sempre um prazer ler seus textos. Parabéns

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  • Ótimo texto.

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  • Excelente! não conhecia o termo ‘catolite’… faz muito sentido suas colocações… que mundo é esse que vivemos dominados por infantes sem noção ….

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