Cresce o número de crianças que usam a internet de forma privativa sem supervisão dos pais, especialista alerta
14% dos infanto-juvenis de 9 a 10 anos acessam a web sem o acompanhamento dos pais, enquanto entre adolescentes de 15 a 17 anos, esse número sobe para 51%.
Uma pesquisa recente da TIC Kids Online Brasil trouxe dados sobre o acesso precoce à internet entre crianças. O estudo revela que 24% delas acessaram a internet pela primeira vez até os 6 anos de idade, um aumento significativo em relação a 2015, quando esse percentual era de apenas 11%. Essa mudança indica que o ambiente digital, antes explorado principalmente na pré-adolescência, se tornou cada vez mais presente na vida das crianças, levantando questões cruciais sobre os impactos desse acesso no seu desenvolvimento e bem-estar.
Esse acesso prematuro vem acompanhado de desafios reais no dia a dia dos pais e responsáveis. Entre os usuários de 9 e 10 anos, mais da metade (52%) iniciou a navegação na rede antes dos 6 anos, o que gera uma nova dinâmica para pais e responsáveis no que tange à segurança digital. O celular, hoje presente nas mãos de 80% das crianças e adolescentes, se tornou o principal meio de acesso à Internet, proporcionando maior autonomia, mas também dificultando o controle parental sobre o que é consumido e com quem se interage.
Jovens do sexo feminino (16,2%), filhos de mães sem escolaridade (16,2%) e estudantes de escola pública (13,5%) estão entre as principais vítimas das agressões, sejam elas verbais, disseminadas nas redes ou pessoalmente. Ainda de acordo com a pesquisa, a utilização da Internet em ambientes privados, sem supervisão, é mais comum à medida que a idade avança: 14% dos infanto-juvenis de 9 a 10 anos usam a rede de forma privativa, enquanto entre adolescentes de 15 a 17 anos, esse número sobe para 51%.
Para Jonathan Arend, especialista em cibersegurança e Head de Privacidade, Cibersegurança e Governança da keeggo, o acesso antecipado à internet, especialmente, entre pessoas de 9 e 10 anos, cria um problema para pais e responsáveis no que diz respeito à segurança digital.
“Com mais da metade dessas crianças iniciando sua navegação antes dos 6 anos, a autonomia proporcionada pelos celulares se contrapõe à capacidade de controle dos responsáveis. O uso intensivo da rede em ambientes privados torna ainda mais difícil monitorar as interações e o conteúdo, consequentemente, aumentando a exposição a riscos como o cyberbullying, que já afeta um número alto de jovens. Esse cenário reforça a necessidade de uma educação digital mais próxima e contínua, adaptada às novas realidades”, enfatiza Arend.
De acordo com estudo realizado por pesquisadores da Escola de Enfermagem da UFMG e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 13,2% dos jovens são vítimas de cyberbullying. O levantamento contemplou 159.245 estudantes de 13 a 17 anos do ensino fundamental e médio de escolas públicas e privadas. Os dados constam na edição mais recente da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde (MS).
Além disso, plataformas como WhatsApp (78%), Instagram (66%) e TikTok (63%) estão entre as mais populares entre crianças e adolescentes, elevando o risco de exposição a conteúdos nocivos e à interação com estranhos.
Em paralelo, o estudo demonstra que, embora muitos jovens dominem as habilidades técnicas, como baixar aplicativos (96%) ou excluir pessoas de suas redes sociais (91%), aspectos mais delicados, como a proteção de dados pessoais e a noção de privacidade, ainda precisam ser mais desenvolvidos, especialmente entre os mais jovens.
Arend recomenda que os pais, principalmente de crianças, acompanhem o conteúdo de forma mais próxima. Vejam as dicas do especialista:
Limitar o tempo de uso: definir horários para o uso de telas;
Monitorar as redes sociais: verificar o histórico do computador e estar presente quando ele estiver usando a internet.
Usar ferramentas de controle parental: Existem ferramentas que permitem monitorar e bloquear o acesso a sites, definir filtros de navegação, restringir compras e downloads, e ver a localização do aparelho. Alguns exemplos são o Google Family Link.
“Com o primeiro acesso à Internet ocorrendo cada vez mais cedo, torna-se indispensável que pais, educadores e a sociedade como um todo estejam atentos ao desenvolvimento digital seguro. O diálogo aberto, a imposição de limites e o uso de tecnologias de controle são estratégias fundamentais para proteger nossas crianças em um ambiente digital cada vez mais complexo”, finaliza Arend.