Empoderamento e a pélvis

Por Henrique Vieira

Era uma vez, uma pobre e ignorante escritora, que tivera a infeliz ideia de publicar um artigo ignóbil. Segue:

“Uma nova expressão surge no léxico brasileiro e ecoa, retumbante, nos lábios ávidos por um discurso palatável e de fácil reprodução: trata-se do empoderamento. O vocábulo tem sido a bandeira do movimento feminista, uma libertação contra a opressão masculina e a luta pela igualdade. Quem poderia se opor a qualquer pungir em favor de ideários tão nobres como liberdade e isonomia de gêneros? Acredito que ninguém. Na verdade, se esses fossem realmente os únicos objetivos da luta feminista, teriam em mim mais uma associada.

A expressão foi tomada da língua inglesa, “empowerment”, que nada mais é que uma estratégia de ação empresarial. Na prática, a cúpula da organização permite que certas decisões sejam descentralizadas, a fim de otimizar as atividades do nível operacional, que precisam adequar-se o mais rápido possível às constantes mudanças do ambiente competitivo em que estão inseridas. Dessa forma, ao vendedor, por exemplo, é permitido tomar a decisão de conceder determinados descontos ou condições sem que os diretores de marketing da empresa sejam consultados. Em resumo, o empowerment é uma permissão para agir até determinado limite.

Causa espécie, entretanto, que um movimento que lute por liberdade e igualdade tome de empréstimo uma palavra que derive de uma permissão limitada, uma concessão de licença por um poder superior. Bem, partindo desse princípio, seria um bom alvitre que OS feministas, que abrangem homens e mulheres que compartilham desse ideário (parece que até a língua portuguesa é machista, talvez devêssemos aboli-la), escolhessem melhor as palavras de representação de suas ideologias. Dessa forma, talvez poderiam angariar mais adeptos.

E o que a pélvis tem com isso?

Pois bem, não só de uma palavra vive um movimento. Infortunadamente, em nome da luta por liberdade e igualdade de gêneros, algumas mulheres são derrotadas pela ebriedade, enquanto outras estapeiam-se em praça pública por causa de um macho sedutor, gritam palavras chulas aos quatro ventos quando se deparam com qualquer mínima frustração, ou vulgarizam ao máximo suas vestimentas, apenas pelo mote de que nos seus corpos prevalecem as suas regras. Em suma, equipararam a grandeza de princípios constitucionais basilares ao pior do comportamento masculino, além de desenvolverem inacreditáveis movimentos pélvicos e nadegais. Isso mesmo! Os quadris tornaram-se a expressão máxima de liberdade.

E os opressores agradecem.

Antes de o empoderamento existir como estandarte ideológico, as mulheres permaneciam com os afazeres domésticos, entrementes, os homens digladiavam-se entre bebidas alcóolicas e bradavam entre si os mais baixos despautérios. Apesar da péssima conduta masculina, eles sabiam que ao retornarem ao lar, a ordem familiar haveria de estar garantida, simplesmente porque tinham a certeza que suas esposas estariam a desempenhar o papel que, naquele momento, era o aceitável e esperado. Eis o século XX, nada mais natural que sair à luta, livrar-se do jugo opressor das atividades domésticas impostas pela sociedade machista. Malgrado o penoso servilismo de gênero, é inegável que a mulher, ao suportar aquela submissão bíblica, teve papel fundamental ao longo da história e na manutenção da família e da sociedade. Pagou um altíssimo preço e por isso merece todo o respeito.

E o respeito está nas garantias: direito político, ao trabalho, salários equânimes, proteção ao planejamento familiar, saúde, educação, lazer e tantos outros instrumentos para preservar os direitos à liberdade e igualdade, na mesma proporção que essas garantias são dispostas ao gênero masculino.

Ocorre que o movimento feminista pretende rebaixar a deferência às mulheres ao ato de embriagar-se e estapearem-se em via pública. Jactam-se e declaram que isso é o empoderamento, simplesmente porque os homens o fazem e os direitos são iguais. Ora, se antes a família contava com apenas um delinquente infantil (e não me refiro aos filhos) agora haverá dois. Qual seria a consequência? O fim da família? Crianças cada vez mais autoritárias e brigonas, que se tornarão adultos rebeldes e inseguros?

Por fim, acredito que toda luta por direitos e garantias é válida, desde que a estrutura social não se altere para pior. Assim, tomar para si os piores comportamentos masculinos, nomeá-los empoderamento simplesmente com o fito de abalar a ordem social (o que parece ser a real intenção do feminismo) são atos preocupantes, que conspurcam conquistas já alcançadas e confundem-se com a mais torpe vulgaridade.

Não seria exagero algum dizer, portanto, que a igualdade que o feminismo deveria provocar não está em se nivelar à defeituosa condição masculina, mas, sim, em alçar o homem à nobreza feminina.”

Merecidamente, no dia posterior, a infausta autora foi sumariamente julgada e condenada à morte pelo crime de opinião.

Arda no inferno, traidora!

One thought on “Empoderamento e a pélvis

  • Excelente texto e esclarecedor, eu não tinha pensado e nem sabia a origem dessa palavra que tanto é usada pelas mulheres. Parabéns Henrique, uma visão ampla do que esta acontecendo.

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