Esporte tem potencial transformador, mas uma divisão justa de recursos ainda é desafio para inclusão
Estudo realizado pela Iniciativa PIPA e Phomenta em 2023 aponta que 40% das ONGs no Brasil recebem ajuda apenas de sua comunidade. Esse levantamento indica que apesar de muitos projetos sociais não serem vistos e não receberem incentivos de grandes empresas e do poder público, com o pouco que recebem, conseguem influenciar na sua região. Um dos aspectos que pode ser destacado é o suporte que essas organizações oferecem em questões educacionais, como a evasão escolar, ou a formação dos jovens abraçados em cada iniciativa, fortalecendo vínculos com família e sociedade. Sem falar ainda no desenvolvimento psicomotor dos beneficiados. Ou seja, há de fato uma transformação social e de vida. Agora, vamos imaginar: e se essas organizações recebessem os incentivos financeiros que precisam para ampliar seus projetos?
Um dado que nos ajuda a ter essa resposta foi divulgado em 2021 pelo escritório brasileiro da Unesco, que afirma que onde existem programas de apoio ao esporte para crianças e adolescentes observa-se uma queda anual de 30% da criminalidade. O impacto é também sentido na diminuição dos índices de consumo de drogas e violência. Isso pode ser observado com mais clareza em áreas que sofrem com a vulnerabilidade socioeconômica.
Dentre as instituições que realizam esse tipo de ação está o caso do Instituto Futebol de Rua, que iniciou suas atividades há 18 anos para fazer a diferença na comunidade de Heliópolis, em São Paulo, em 2006 e atualmente em mais de 90 cidades em 22 Estados do Brasil. A ação do Instituto exemplifica como o esporte, unido à educação, gera oportunidades para jovens, possibilitando uma vida diferente para eles e suas famílias, não apenas para o esporte como desempenho e alto rendimento, mas sim com o objetivo educacional.
Exemplos como esse podem ser replicados pelo país. Para isso, é necessário, então, que ideias assim recebam mais apoio, seja do poder público ou da iniciativa privada, para que projetos consigam abraçar mais crianças e adolescentes em cidades do interior, longe das capitais, locais onde mais se encontram pessoas em vulnerabilidade. Para se ter uma ideia, em 2023, a região Sudeste representou quase 69% do investimento da Lei Federal de Incentivo ao Esporte. O Nordeste representou menos de 8,46%, Norte e Centro-Oeste representaram 2,51% e 3,01% respectivamente.
O esporte é um agente transformador na vida de qualquer pessoa. Trata-se de uma prática capaz de promover não apenas saúde e qualidade de vida física e mental, mas inclusão e desenvolvimento. Em anos olímpicos, como este, costumamos acompanhar frequentemente histórias de atletas medalhistas que começaram praticando esporte na rua e depois, muitas vezes, foram acolhidos por projetos sociais pequenos, mas que fazem diferença. São histórias comuns, que vemos diariamente, mas que ainda parecem ser ignoradas em diversas regiões do país.
Soluções existem e é necessário ter um olhar mais apurado para promover igualdade na divisão de recursos. Um desses caminhos é por meio de parcerias. A Rede CT – Capacitação e Transformação, por exemplo, surgiu da união entre o Instituto Futebol de Rua, Nexo Investimento Social e da Rede Igapó, que juntaram suas expertises e experiências no terceiro setor e na área de captação de recursos para poderem capacitar ONGs e OSCs para inscreverem seus projetos nos editais da Lei Federal de Incentivo ao Esporte. Trata-se de uma união que visa levar mais recursos às entidades que menos recebem e promover igualdade e inclusão. Isso é transformação social.
O Brasil é um país de dimensões continentais e cada região tem seu povo e suas peculiaridades, mas é necessário entender que somos um só país e precisamos olhar para todas as direções. É necessário, e rápido, investir para desenvolver ainda mais as populações do Centro-Oeste, Norte e Nordeste para poderem contribuir cada vez mais com o país. O esporte é um dos caminhos.