Tudo o que você precisa saber sobre endometriose
A endometriose é uma das doenças mais comuns na vida das mulheres em idade reprodutiva, podendo atingir uma faixa entre 5 a 15% dessa população.² Recentemente, muitas famosas, como Anita , compartilharam o diagnóstico da doença nas redes sociais e contribuíram na popularização da condição.
Apesar de progressiva, essa doença ginecológica é benigna, entretanto, quando não tratada corretamente, pode causar sérias consequências. Além dos sinais físicos, como dor na região genital e dor pélvica no período menstrual, pode levar à infertilidade. Isso sem contar os prejuízos de ordem emocional na vida das mulheres afetadas. Muitos desses problemas são consequências do diagnóstico tardio².
E você, já conhece a endometriose? Sabe quais são os sintomas típicos desse problema? Ela pode ser classificada em diferentes tipos, dependendo de como ela afeta o seu corpo. Neste artigo completo, vamos explicar o que é essa doença, quais são os sintomas, as classificações e as principais consequências para o corpo da mulher. Ainda vamos falar sobre o diagnóstico e os principais tratamentos disponíveis no mercado. Acompanhe!
O que é a endometriose?
Endometriose é uma doença inflamatória causada pela presença de tecido endometrial ectópico. Em outras palavras, significa ter parte do endométrio crescendo fora do útero.
Para explicar a condição, precisamos entender um pouco do sistema reprodutor feminino.
O endométrio é um tecido localizado dentro do útero, responsável pela fixação do embrião em caso de fecundação. Todos os meses, esse endométrio fica mais espesso durante o ciclo menstrual e, não havendo a fecundação, parte desse tecido é liberado em forma de menstruação.
Esse é um processo natural. Afinal, o endométrio é um tecido composto por glândulas que interagem com hormônios para garantir a sua regulação e a manutenção. Os dois principais desse processo são o estrogênio e a progesterona.
Durante a menstruação, um tanto do fluxo pode retornar, fazendo com que parte desse endométrio se fixe em outros pontos, em regiões próximas, como ovários, intestino, nos ligamentos, peritônio, além de bexiga, sigmoide e reto. Com isso, gera-se uma inflamação, bem como os sintomas que veremos adiante.
Apesar de ainda pouco conhecida, a doença afeta aproximadamente 7 milhões de brasileiras. Entretanto, esse número pode ser ainda maior, tendo em vista a demora no diagnóstico ou o número de mulheres que não procuram ajuda médica.
Mesmo com os danos que pode causar, a endometriose é considerada uma doença benigna que, eventualmente, pode ser acompanhada por tumores ovarianos malignos. Em virtude disso, somando-se ao fato de sua abrangência, bem como os impactos na saúde física e psicológica, essa doença já é considerada um problema de saúde pública
O que causa a endometriose?
Diversos estudos vêm sendo realizados a fim de esclarecer por quais motivos essa patologia afeta tantas mulheres. Entretanto, ainda não há um consenso sobre o que pode ser a causa para o problema.
De modo geral, os estudiosos se baseiam em cinco caminhos. São eles:
- menstruação retrógrada: abordagem na qual a endometriose seria mais frequente em mulheres com obstrução no fluxo menstrual ou que têm ciclos com durações muito curtas ou mais longas, o que possibilitaria a implantação do endométrio;
- fatores relacionados ao sistema imune;
- disseminação iatrogênica: casos em que a endometriose pode estar ligada a cicatrizes de cirurgias realizadas na região do abdômen, como cesárea. Nesse local, pode haver a instalação do endométrio;
- fatores hormonais: devido à produção de estrogênio extra ovariano, a endometriose pode surgir em mulheres que realizaram a histerectomia (cirurgia para remoção do útero) e a salpingo-ooforectomia bilateral (cirurgia para remoção dos ovários e das trompas);
- fatores genéticos: existem estudos direcionados à investigação da relação de endometriose em mulheres que têm familiares com a doença, em especial de primeiro grau (mãe e filha, por exemplo).
Entretanto, nenhum dos fatores, isoladamente, é capaz de explicar a ocorrência da endometriose. Outro ponto de destaque em relação à condição é que, ainda que tenha potencial de afetar todas as mulheres em idade reprodutiva, o seu pico de incidência é por volta de 32 anos².
Quais são os tipos de endometriose?
Existem algumas classificações para a endometriose. A mais utilizada é a da Associação Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), proposta no ano de 1985 e revista no ano de 1996².
Essa divisão é baseada no tamanho, na aparência e na profundidade do endométrio implantado nos ovários e no peritônio (como é chamada a membrana que cobre a parede dos órgãos digestivos e do abdômen). Além disso, são levadas em consideração outras características, como tipo e grau de obstrução.
Com isso, essa classificação divide a endometriose em três tipos (1, 2 e 5):
- leve: 1 a 15 pontos de lesões, implantes mais superficiais, sem aderências muito significantes;
- moderada: aqui, já se pode notar a presença de 16 a 40 pontos de infecção, múltiplos implantes que podem envolver um ou os dois ovários, e aderências mínimas peri tubárias e peri ovarianas;
- severa: apresenta mais de 40 pontos, implantes profundos, presença de endometriomas (implantes que geram massa tumoral). Aqui, as tubas podem estar parcial ou totalmente obstruídas, e os ovários, limitados, devido a aderências do endométrio.
Existe, ainda, outra classificação, que vem sendo bastante utilizada e que está mais ligada à localização da implantação do endométrio no corpo feminino (1, 2 e 5).
Com isso, é possível classificá-la da seguinte forma:
- endometriose peritoneal: os implantes de endométrio estão localizados no peritônio, ou seja, na cavidade abdominal;
- endometriose ovariana: nesse tipo, os implantes se localizam nos ovários. Há, também, presença de endometriomas;
- endometriose profunda: caracterizada pela presença de endométrio em profundidade superior a 5 mm, havendo também fibrose e hiperplasia muscular abaixo do peritônio.
Quais os sintomas da endometriose?
A endometriose não tem apenas um sintoma característico e, muitas vezes, pode apresentar um conjunto de manifestações clínicas pouco precisas e, até mesmo, ser assintomática em seu estágio inicial.
Entretanto, mulheres com endometriose podem apresentar os seguintes sinais:
- dismenorreia, nome dado à dor pélvica muito forte no primeiro dia da menstruação, que pode estar associada a outros sintomas comuns do período;
- dispareunia, ou dor na hora da relação sexual;
- alterações intestinais, como diarreia, fezes com sangue, constipações frequentes e cólicas;
- disúria, nome dado ao desconforto na hora de eliminar urina;
- infertilidade.
Quais as consequências?
Apesar de, em geral, não ser uma doença maligna, a endometriose traz consequências para a vida das mulheres acometidas. A principal delas é a infertilidade.
Trata-se de um problema que afeta entre 10 a 15% da população em idade reprodutiva. Quando olhamos mais de perto para esse número, é possível perceber que uma das principais causas da infertilidade feminina é a endometriose, representando em torno de 25%-40% do total de mulheres inférteis, principalmente na faixa dos 40 anos
Outra consequência dessa doença ginecológica é a evolução dos implantes endometriais para tumores malignos. Embora de baixa ocorrência, ainda é uma possibilidade real, sobretudo se não for diagnosticada e tratada corretamente.
Tudo isso sem contar o desconforto que as fortes dores pélvicas abdominais causam na qualidade de vida das pessoas afetadas pelo problema.
Para além das manifestações e consequências físicas, existem alguns efeitos da endometriose na saúde mental das mulheres. Muitos também são causados ou intensificados pela dificuldade para encontrar um profissional que não banalize seus sintomas e realize tratamento correto.
Veja alguns deles:
- depressão e ansiedade , pela incerteza ou demora no diagnóstico;
- estresse excessivo;
- disfunção sexual;
- fadiga cronica;
- trabalho prejudicado devido às dores cronicas;
- menor qualidade de vida;
- redução da atividade social.
Como é feito o diagnóstico?
Como vimos, na endometriose, não há um sinal específico que demonstre a presença da doença, e sim, um conjunto de sintomas que podem estar associados. Além disso, muitas vezes, sequer há sinal aparente de que algo não vai bem. Por conta disso, o intervalo entre o surgimento da doença e o início do tratamento pode ser um caminho bastante longo.
Em geral, o tempo médio para a concretização de um diagnóstico de endometriose é de 7 anos¹,³, o que é preocupante, visto que esse atraso pode resultar em tratamento tardio ou ineficiente. Além disso, o risco de resultar em consequências mais sérias, como listamos, é elevado.
Assim, quando sentir algum sintoma, é importante procurar um médico o quanto antes. Esse profissional dará início à investigação, analisando o histórico clínico, a fim de entender o quadro geral e os antecedentes familiares, já que é possível que a endometriose seja genética.
Entretanto, esse tipo de análise feito individualmente costuma ser inconclusivo, visto que os sinais variam muito. Entretanto, o atendimento clínico é essencial para determinar se a paciente é ou não grupo de risco e para encaminhar a outras análises mais completas. Confira quais são as principais abaixo.
Laparoscopia
Atualmente, os principais exames para confirmação de endometriose são a laparoscopia e o diagnóstico histológico baseado nas lesões.9 A laparoscopia é uma pequena incisão realizada pelo médico, em que ele pode observar ou recolher amostras do tecido do endométrio na cavidade pélvica.
Apesar da precisão, apresenta ainda algumas limitações, como o risco (embora baixo) de danos ao órgão e infecções. Entretanto, a recuperação é rápida, e os benefícios do diagnóstico são muitos. Na dúvida ou insegurança, sempre fale com seu médico.
Exames laboratoriais
Não existe um exame laboratorial que ateste, por si só, a presença da patologia. Entretanto, o exame CA-1259, normalmente requisitado para investigar câncer, pode ser usado para reforçar a suspeita de endometriose, sobretudo nos casos moderados e graves. Deve ser feito com muito cuidado para não captar alterações normais do ciclo menstrual.
Existe, ainda, o exame Proteína Amiloide A Sérica (SAA), uma proteína de ciclo agudo inflamatório. Ele pode ser aplicado, uma vez que a proteína consegue permanecer amplamente em pacientes com endometriose avançada.
Diagnóstico por imagem
Além da laparoscopia e dos exames laboratoriais, algumas alternativas para o diagnóstico da endometriose vêm sendo testadas e apresentando resultados positivos. As técnicas de diagnóstico por imagem, por exemplo, como a ultrassonografia e ressonância magnética, não são invasivas e podem fornecer informações precisas sobre o endométrio.
A ultrassonografia tem algumas limitações práticas, como a dificuldade de visualização no abdômen superior e a dependência de um ultrassonografista operador que seja capacitado para avaliar as lesões. Já a ressonância, mesmo com maior precisão de imagens obtidas, tem pontos de atenção, como alto custo e falta de equipamentos em cidades menores, por exemplo. Apesar disso, são altamente recomendados, desde que sigam o protocolo correto de atendimento.
A ultrassonografia, tanto a transvaginal quanto a retal, é a primeira escolha dos profissionais quando se fala em exames não invasivos. Esse exame é capaz de identificar lesões na região pélvica com precisão, em relação a suas características e localização.
A fim de criar um protocolo de atendimento para pacientes com suspeita de endometriose, em 2016, foi criado um protocolo chamado de IDEA (sigla em inglês International Deep Endometrioses Analysis, ou Análise Internacional de Endometriose Profunda), destacando os passos essenciais para avaliação da região pélvica, aumentando a precisão da investigação. Nele, estão contidos os seguintes passos:
- útero e anexos;
- soft makers (regiões com alteração na consistência);
- Saco de Douglas;
- compartimentos anterior e posterior.
Além disso, quando são encontradas lesões, o médico vai identificar local, as bordas e as medidas para inclusão no laudo final9.
Já o exame de ressonância magnética, quando solicitado, é feito de forma complementar a outros exames, especialmente, em casos mais complexos, quando houver cirurgia ou quando a ultrassonografia deixar dúvidas. Também existe um protocolo padrão para a realização desse exame.
Trata-se da realização da ultrassonografia transvaginal como primeira escolha, e a ressonância para casos de lesões no abdômen superior ou em muitos pontos ao mesmo tempo. Uma vantagem desse exame é a possibilidade de poder ser realizado e analisado por vários profissionais, pois as análises são feitas após, não durante o exame9.
Qual é o tratamento para endometriose?
Até aqui você já pode entender o que é a doença, como ela se manifesta, seus sintomas, como é feito o diagnóstico e as consequências quando ela não é tratada. Então, para encerrar este conteúdo, vamos falar um pouco das opções de tratamento, uma vez que a doença esteja diagnosticada.
Tenha em mente que não se deve iniciar um tratamento sem orientação médica. Somente realizando os exames é possível entender os sintomas e identificar o problema de cada paciente.
Dito isso, é importante destacar que o tratamento da endometriose é individualizado e deve levar em conta os sintomas de cada paciente, suas condições de saúde em geral e o contexto social em que está inserida. Pode ser necessária uma equipe multidisciplinar para atuar em várias frentes e abranger todos os aspectos biopsicossociais .
Em geral, o diagnóstico da endometriose tem como foco a redução ou a eliminação total do estímulo causado pelo estrogênio. Isso porque esse hormônio é um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento e permanência do endométrio ectópico.
Por esta razão, a principal via de tratamento para endometriose é a utilização de medicamentos que bloqueiam o efeito desse hormônio, ou que diminuem a produção de estrógeno, como os análogos do GnRh. Na classe dos pro gestagênios, eles podem ser puros ou associados a um estrogênio nas pilulas anticoncepcionais, contraceptivos injetáveis, adesivos e anel vaginal.
Diante dessa situação, existem algumas possibilidades de tratamento que costumam ser classificadas. Veja a seguir.
Tratamento clínico
Esse é um tratamento recomendado para pacientes que apresentam os sintomas, dor incômoda e que não querem ter filhos
Muitas vezes, usado em conjunto com tratamento cirúrgico, consiste em reduzir a dor com o auxílio de medicamentos como anti-inflamatórios não hormonais, analgésicos e outras terapias complementares, como exercícios físicos, fisioterapia, terapia e acupuntura.
Tratamento farmacológico
O tratamento farmacológico consiste na introdução de anti-inflamatórios não esteroides em conjunto com anticoncepcionais diários e análogos de gonadotrofinas, uma vez ao mês, para melhorar a dor pélvica e baixar os níveis de estrogênio no organismo. Esse tratamento não pode ser usado por mais de seis meses consecutivos.
Tratamento cirúrgico
O tratamento cirúrgico pode ser de maior ou menor complexidade. A intervenção de menor complexidade envolve liberar aderências e cauterizar focos. Já as mais complexas envolvem lidar também com órgãos como ovários, bexiga, intestino e ureteres.
A cirurgia é uma alternativa para mulheres que já realizaram algum tratamento, não tiveram alívio das dores e ainda querem ter filhos. Nesse caso, pode ser feita uma laparoscopia ou laparotomia pélvica, a fim de destruir ou remover todos os tecidos associados à patologia. Já as mulheres que não querem ter filhos e sofrem com esses sintomas podem fazer a remoção total do útero, a histerectomia .
Tratamento de reprodução assistida
Já os tratamentos de reprodução assistida são recomendados para as pacientes que têm endometriose, já apresentam sinais de infertilidade e ainda querem ser mães.
Isso porque, dependendo do grau da doença, idade da paciente, local da lesão e condição de saúde geral, gerar um filho por meio da fecundação natural, mesmo depois dos tratamentos, pode ser mais difícil.
Sendo assim, a FIV (Fertilização in Vitro) é uma alternativa para mulheres com endometriose em graus mais avançados.
Tratamento hormonal
Existem, ainda, os tratamentos hormonais, que consistem em um sistema intrauterino liberador de levonorgestrel (SIU-Lng), conhecido como DIU hormonal ou Mirena. Além da ação contraceptiva, atua no controle hormonal, bloqueando a fase de estimulação e de sangramento endometrial, ou guiando a atrofia dos implantes endometriais ectópicos1.
Vale reforçar mais uma vez que o tratamento mais adequado para cada paciente vai depender da análise de um profissional especialista que, em conjunto, poderá definir o que se encaixa melhor. Em muitos casos, pode ser preciso realizar combinação de mais de um tratamento, além de acompanhamento de profissionais de outras áreas como endocrinologistas (para verificar a questão hormonal), nutricionistas e psicólogos.
A endometriose é uma doença dolorosa para muitas mulheres, mas que tem tratamento. Entretanto, é fundamental ter atenção ao menor sinal de que algo não vai bem e manter as consultas com o ginecologista em dia. Além disso, manter hábitos saudáveis, uma rotina equilibrada e atenção aos cuidados com seu corpo garantem mais qualidade de vida e bem-estar, independentemente do diagnóstico.
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