Dissecção da Aorta é uma emergência frequentemente fatal
Brasil é o primeiro país da América do Sul a fazer parte da campanha Think Aorta, que reúne um grupo de pacientes chamado Unidos pela Dissecção, voltado para a conscientização de médicos e de toda a sociedade
No dia 19 de setembro é comemorado o Dia Mundial de Sensibilização para a Dissecção da Aorta, mais uma data importante para lembrarmos de cuidar da saúde vascular. A Dissecção de Aorta é uma ruptura da parede interna, chamada camada íntima. Quando este rompimento ocorre, a aorta se divide em duas e o sangue pode se distribuir de forma desigual entre os órgãos. De acordo com o artigo publicado pela revista internacional BMC Public Health (2012), escrito por Augusto Hasiak Santo e colaboradores, estima-se que cerca de 14.000 pessoas morreram em decorrência da Dissecção Aórtica entre os anos de 1985 a 2009, só no estado de São Paulo.
A diretora de Traumas Vasculares da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), Dra. Grace Mulatti, afirma que é possível que a real incidência no Brasil, assim como em outros países, seja subestimada. ”Acredito que uma das principais dificuldades relacionadas à Dissecção de Aorta seja o seu diagnóstico, cujo principal diferencial é o infarto agudo do miocárdio”, relata.
Ela explica que o sintoma mais comum na fase aguda é uma dor torácica de forte intensidade, e que alguns pacientes relatam ter a nítida sensação de algo se partindo ou se rasgando dentro de si. Outras dores torácicas de menor gravidade também podem ser consideradas, como dores musculares ou crises dispépticas (de gastrite). A dor também pode ser relatada no pescoço, costas ou abdômen. Ainda, segundo a Dra. Mulatti, a diferenciação é feita pela história clínica do paciente, e alguns exames podem ser auxiliares para detectar essa ruptura, como um ecocardiograma ou um ultrassom abdominal. Porém, o diagnóstico definitivo, contudo, só é obtido por meio de um exame de Angiotomografia Computadorizada.
A Dissecção de Aorta ocorre, normalmente, por problemas estruturais na parede deste vaso. Didaticamente, é possível separar em dois grupos:
- O primeiro é aquele em que o hipertenso grave, de longa data e tabagista, na faixa de 60 anos, vai apresentar dano crônico na camada interna da aorta, até que um dia ela pode se romper. Algumas vezes o paciente já apresenta uma dilatação de aorta que antecede a dissecção.
- O segundo é um grupo de pessoas mais jovens, de 30 a 40 anos, que tem doenças genéticas, como Síndrome de Marfan, Ehlers-Danlos, Turner, entre outras, ou uma alteração estrutural do coração chamada valva aórtica bicúspide. Algumas dessas síndromes genéticas envolvem problemas do colágeno, e os pacientes apresentam alterações estruturais da camada média da aorta, que um dia pode vir a dissecar.
Outras situações menos frequentes, mas que também podem ser gatilhos para a afecção, são a gravidez, os traumas e o uso de drogas ilícitas, particularmente a cocaína.
Na porção da aorta descendente e abdominal, o risco maior está relacionado à diferença de distribuição de sangue entre os órgãos. A questão de a aorta estar dividida em duas, pode levar, por exemplo, à falta de sangue para um órgão, como um rim, outros órgãos abdominais (fígado, intestinos), um membro inferior, ou até mesmo à medula espinhal, causando paraplegia. Por isso, reconhecer situações de isquemia e tentar revertê-las o mais rápido possível é vital nesses casos.
Para a prevenção, é possível controlar os fatores de risco modificáveis, como controlar a pressão e o colesterol e cessar o tabagismo, e ao sentir algum sintoma que possa caracterizar como Dissecção da Aorta, o paciente precisa ir ao pronto-socorro imediatamente para obter um diagnóstico adequado e receber o tratamento específico o quanto antes. “Após a dissecção, o paciente cirúrgico vai sempre precisar acompanhar sua intervenção, quer seja terapia convencional, com substituição da aorta por prótese, ou via endovascular por cateterismo”, aconselha o diretor de Moléstias Arteriais da SBACV-BA, Dr. André Brito.
Think Aorta
Cerca de cinco anos atrás, um grupo de pacientes americanos se uniu em uma associação, onde anos depois um grupo de pacientes ingleses, também associados, se mobilizou e criou uma campanha de conscientização mundial sobre a doença. A iniciativa, chamada THINK AORTA (Pense Aorta), deu início a uma campanha estruturada em 2018. O objetivo desse grupo tem sido fazer campanhas educacionais e de conscientização não só com médicos, mas também com o público, e tem conseguido, por meio de suas iniciativas, melhorar os resultados desses pacientes e salvando vidas.
A campanha veio para o Brasil, primeiro país da América do Sul a fazer parte, e um grupo de mais de 400 pacientes se uniu a esta iniciativa, chamado Unidos pela Dissecção.
A SBACV apoia o movimento que promoverá uma campanha nos dias 17, 18 e 21 de setembro, conforme explica o diretor de Publicações da SBACV, Dr. Marcelo Calil Burihan. “Estaremos apoiando uma campanha global, que irá acontecer em alguns hospitais no Brasil como projeto-piloto, voltada para levar a conscientização de médicos e de toda sociedade sobre a Dissecção da Aorta”.
A SBACV
A Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) é uma associação sem fins lucrativos, que visa a defender os direitos de seus profissionais, médicos e residentes, especialistas em saúde vascular. Além disso, tem como objetivo incentivá-los à produção científica, aprofundando as pesquisas nas áreas de Angiologia, Cirurgia Vascular e Endovascular, Angiorradiologia e outras modalidades.
A entidade trabalha com uma política alinhada aos valores da AMB (Associação Médica Brasileira) e do CFM (Conselho Federal de Medicina) a fim de conduzir a instituição de maneira ética, sempre valorizando as especialidades médicas em questão. Atualmente, conta com 23 associações regionais espalhadas por todo o Brasil.