A arquitetura vernacular e as casas tradicionais do centro oeste

Apesar das intenções políticas socialistas e das críticas ao movimento industrial por trás do movimento, o Arts and Crafts possuía em sua base uma reafirmação da arquitetura vernacular. Relacionando-se à teoria de arte feita pelo povo e para o povo, o arquiteto e urbanista dinamarquês Rasmussen diz que: A arquitetura é produzida por pessoas comuns para pessoas comuns; portanto, deve ser facilmente compreensível a todas as pessoas.

É inevitável a conexão feita hoje em dia entre arquitetura vernacular e sustentável. Segundo os autores J. Fernandes e R. Mateus (2011) “baseada na repetição de soluções, e aprimorada ao longo de sucessivas gerações de artificies”, a arquitetura vernacular “é o reflexo de um tempo mais sustentável em que ainda se sabia lidar com os parcos recursos que se dispunha, o que permitia tirar partido dessa aparente desvantagem”. Essa conexão é feita levando em consideração as características da arquitetura vernacular que se beneficia apenas dos recursos disponíveis no local de implantação para sua reprodução.

No Brasil, apesar de se evidenciar uma base de técnicas construtivas e materiais tradicionais que se replicam ao longo de todo o território, é encontrado evidentemente soluções projetuais e influências variadas de culturas que particularizam cada tipologia arquitetônica encontrada em todos os estados e que se adequam quanto ao clima, relevo e condicionantes naturais do terreno. Fala-se das casas de caráter colonial italiana no Rio Grande do Sul, ou mesmo das edificações ao norte do pais, onde se observa muito das técnicas tradicionais indígenas com coberturas de palha e estrutura em madeira. No Centro Oeste Brasileiro percebe-se uma miscelânea de elementos tradicionais advindos de diversas culturas, uma vez q a região se localiza em um ponto estratégico no que diz respeito a todo esse intercâmbio cultural. Dentre as tipologias,  toma-se por ponto de partida a arquitetura tradicional indígena, desenvolvida por diversos povos, entre eles os Avacanoeiros, Caiapós, Guaranis, Jurunas, Karajás, Xavantes entre outros. São estruturas consolidadas predominantemente com base em madeira ( Bambu ou madeira advinda da vegetação nativa) coberta por palha ( geralmente folha de Buriti) que constituíam quase todas as estruturas habitacionais ou não das tribos locais.

Em alguns casos faz-se presente edificações com paredes em pau a pique e taipa, técnica bastante difundia pelos exploradores bandeirantes que viriam posteriormente para a região. A presença da terra para material estrutural marca uma das principais características do vernáculo, pela apropriação de matéria prima encontrada em loco e manuseada através de técnicas locais informais passadas hereditariamente.

A início do período de ocupação do centro do pais, já em Vila Boa de Goiás, as edificações tradicionais aparecem com características coloniais, porém, adaptadas às condições de materiais e mão de obra escassa no local.

Na segunda metade do séc. XVI, e posteriormente com a corrida do ouro que se iniciara no séc. XVIII a partir de 1720 aproximadamente, se consolida um tipo de construção local estruturada em paredes Adobe e/ou taipa, com estruturas em madeira e cobertura similar ao modo de construção indígena com folhas de buriti e bambu, e/ou telhas de barro moldadas por escravos. Juntamente a essa arquitetura aparecem também alguns elementos da arquitetura tradicional portuguesa como as eiras trabalhadas nos beirais e os peitoris de escada vazados com ornamentos em madeira. 

Existia um padrão nas projetual, segundo o qual a planta se organiza a partir de um corredor lateral, paralelo a um dos limites longitudinais do terreno, com os cômodos se desenvolvendo ao longo de sua extensão. Sendo assim, em um primeiro plano temos a sala, representando o espaço intermediário entre o exterior e o interior da casa. Em seguida vêm os quartos, ou alcovas, tendo aos fundos a varanda, que é uma sala de convivência que ocupa geralmente toda a largura posterior dessa parte do edifício, sendo o espaço da casa onde, preferencialmente, ficavam as mulheres. (Coelho, 2001, p.205) Com a instauração da República, já no séc. XIX, ocorre a ocupação da região conhecida hoje por Pantanal. Período marcado pelo desenvolvimento da pecuária, atividade ainda hoje muito presente. Nessa Região, devido as condicionantes locais e por se tratar de uma local alagadiço, desenvolve-se edificações construídas predominantemente com madeira local, elevadas sobre palafitas para uma melhor adequação em períodos de cheia.

Em todos os casos, o que destaca é a diversidade construtiva que se desenvolveu em conjunto as necessidades e potencialidades no espaço. Ao contrario do pensamento difundido pelo estilo internacional, a arquitetura desenvolvida de forma tradicional e espontânea está ligada diretamente ao ambiente a ser implantado,  bem como seu clima, materiais naturais disponíveis e os costumes de um povo.  A solução construtiva a se escolher, acaba por ser um quebra-cabeças que da vida a edificações distintas e autênticas entre si, semelhante apenas pela espontaneidade com que se desenvolvem, e pelo marco histórico e cultural que representam.


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